Com o objetivo de difundir o cultivo e o conhecimento sobre cactos e suculentas, criamos este espaço, que esperamos ser de interesse de todos os amantes destas plantas.
Esperamos receber criticas sobre os temas aqui desenvolvidos e a colaboração de outros interessados, visando o aprimoramento desse conhecimento.
Objetivamos também a troca de informações sobre o modo de ocorrência dessas plantas, visando preservar as espécies e seus habitats naturais.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

  Descoberta de Frailea gracillima f. cristata, no Rio Grande do Sul

      Durante uma viagem de pesquisa de cactáceas pelo interior do Rio Grande do Sul, realizada no final de outubro e princípio de novembro, foi encontrado um exemplar de Frailea gracillima de forma cristata, vicejando em meio a inúmeros outros exemplares pequenos, jovens e outros adultos normais. Nota-se, todavia, que nesta população ocorrem alguns indivíduos adultos com troncos ramificados, conforme pode ser observado nas fotos anexas.
      O local onde foi encontrado esse espécime, pertence à região fisiográfica Serras do Sudeste (vide figura).
    Nessa região ocorrem frequentes exposições de rochas     graníticas. 
       Neste local de ocorrência encontram-se dezenas de exemplares, de diferentes tamanhos, desde pequenas plântulas (seedlings) até exemplares adultos, com cerca de 10 centímetros de comprimento e diâmetro de até 18 milímetros. Situam-se em meio a liquens, gramíneas e ervas diversas, desenvolvidas sobre delgada cobertura de solo, na borda de um lajeiro de rocha granítica (vide fotos).
    Nesta região fisiográfica é comum a ocorrência desta espécie, a maioria das vezes, associada a outras cactáceas, também de incidência corriqueira, tais como: Cereus hildmannianus, Opuntia monacantha, Parodia langsdorfii e P. ottonis.


Exemplar de Frailea gracillima,
forma crista.
Exemplar de Frailea gracillima,
forma crista.


Colonia de Frailea gracillima, no local.

Cereus hildmannianus.
Parodia langsdorfii 
Parodia ottonis, da região.                  



         

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Radicais gregos e latinos usados comumente na nomenclatura das cactáceas e demais famílias de plantas

    Na nomenclatura botânica são empregados, comumente, topônimos, nomes próprios e, principalmente, radicais gregos e latinos na formação da terminologia.
    Os topônimos, dizem respeito ao local em que foi encontrada determinada planta. Podem-se citar como exemplos as seguintes denominações, empregadas para os gêneros: Copiapoa, Brasilicereus, Brasiliopuntia, Cipocereus, Cintia, Matucana, entre outros; alguns nomes provem de anagramas de topônimos, como em Lobivia (de Bolivia), Denmoza (de Mendoza) e  Mila (de Lima). Para as espécies são inúmeros os exemplos, podendo-se citar, entre muitos outros: coquimbana, brasiliensis, maldonadenses, etc. Para entender estes nomes basta consultar alguns mapas das américas.
    Os nomes próprios geralmente provem de pesquisadores, ou de pessoas ilustres, ligadas ao estudo botânico, a quem se quis homenagear, como por exemplo: Frailea, Harrisia, Grusonia, Hatiora (anagrama de Harriot), Haageocereus, Bergerocactus, Carnegia, Leocereus, Arrojadoa, Bloosfeldia, Browningia, Escobaria, etc.
     No entanto, a grande maioria, pelo menos para as espécies, tem as denominações compostas por radicais gregos e latinos. Visando facilitar o entendimento dessas denominações, são apresentados a seguir os principais radicais utilizados e seus significados.
- a ou ab – afastado                                                                        
- a ou an – desprovido, ausente
- acanto – espinho
- acer – agudo, penetrante
- acro – no ápice ou cume
- acúleo – espinho, ponta fina
- ad – em direção a
- ala – asa
- albi, alba – branca, alva
- ana – acima, para cima
- andros – masculino
- anfi – dos dois lados
- aniso – desigual
- antera - feminino
- anti – contrário
- apice – porção distal
- argenteo - prateado
- arqueo ou arqui – antigo, primitivo
- astro - estrela
- atactos – confuso, fora de ordem
- atro – negro, escuro
- aureo – amarelo ouro
- austro - sul
- bi – dois, com dois
- blasto – gema, rebento
- braqui – curto, baixo
- brevi – curto, pouco proeminente
- cata – para baixo
- cefalio, cefalo – cabeça
- cereus – cera, vela de cera; candelabro
- cerulea – azul
- ciano – azul
- cinerio - cinzento
- circum – em volta de
- clado – ramo
- cleisto - fechado
- co – junto, conjuntamente
- cori – separado
- corino - coroa
- crasso, crassi – grosso
- crinito – que possui crina, cabeleira
- cripto – escondido
- curvi - curvo
- deca – dez
- decem – dez
- densi, densus – denso, espesso, apertado
- dextro – à direita
- di, dis ou duo – dois
- dia – através de
- diali – separado
- dico – em dois
- dictio – em rede
- dis – ruim
- disco – disco, circular
- dodeca – doze
- dolico – longo
- duodecim – doze
- e ou ex – ausente, destituído
- ecto – para fora
- em ou en – dentro
- endeca – onze
- endo - dentro
- enea – nove
- epi – por cima, sobre
- equino – espinho, ouriço
- erio, erion – coberto de lã ou pelos
- eritro – vermelho
- esquizo - separado
- esteno – estreito, agudo
- eu – bom, correto, verdadeiro
- euri – largo
- ex – ausência, para fora
- extra – fora, por fora
- fusco – pardo, escuro
- gamo – casado, unido
- geo – terra
- giba – corcunda
- glabro – sem pelo
- glauca – verde pálido
- helio – sol
- hemo – relativo a sangue
- hetero – deferente
- hexa – seis
- hialo - vítreo
- hidro – aquoso, úmido
- hiper – acima, superior
- hipo – cavalo; abaixo
- hirto - felpudo
- homo – igual
- icosa – vinte
- infero – abaixo de
- infra – abaixo de
- inter – entre
- intra – dentro de
- iso – igual
- lati – largo
- laxo – frouxo
- lepi – escamoso
- leuco – branco
- levo - esquerdo
- longi –  longo
- luteo - amarelo
- macro – grande
- mamma – mama. mamilo
- mega – muito grande
- melo – negro, escuro
- meso - intermediário
- meta – transformado
- micro - pequeno
- mono – um, único
- multi – muitos
- muricato – à moda de
- nano – anão
- nigri, nigro – negro, escuro
- neo - novo
- nuli – zero, ausente
- ob – inverso, contrário, diante de
- octo – oito
- oligo – escondido, pouco
- opisto – por trás
- orbi – circular
- orto – certo, correto
- oxi – agudo
- para – junto, ao longo de
- pauci – pouco
- pecilo – variado
- pecten - pente
- penta – cinco
- per – através de
- peri – ao redor, em volta de
- piloso – coberto de pelos
- pivot – eixo
- plagio – inclinado, obliquo
- plati - achatado
- plecto – entrelaçado
- pleio – inúmeros, muitos
- pluri – muitos
- poli – muitos
- pomo - fruto
- pre – antes, anterior
- pro – em frente a, para frente
- proto – primeiro, primordial
- pseudo – falso
- quadri – quatro
- quinque - cinco
- re – novamente
- retro – atrás
- rizo – raiz
- rosa, rosea – de cor rosa
- rufo – ruivo, vermelho
- sapro - podre
- semi – ao meio, metade
- septem – sete
- septo – cerca, tabique
- sex - seis
- sifono – tubular
- sin ou sim – em conjunto, fusão
- sinistro – à esquerda
- sub – abaixo
- super – acima
- supra – acima, superior
- testa – concha ou casca
- tetra – quatro
- trans – através de
- tri – três
- tricos – pelos
- turbinado – cônico
- uncinado – com garra ou unha
- undecim - onze
- uni – um, único
- viginti – vinte
- viloso – peludo
- violaceo – de cor violeta
- xero – seco
- xilo – madeira
- zigo –par; em cada lado  

terça-feira, 31 de julho de 2012

Sobre a flora cactácea do Rio Grande do Sul


Introdução
 
   Fazer uma abordagem sobre a flora de uma determinada região não é tarefa fácil, principalmente por quem não seja especialista sobre o tema, mesmo atendo-se sobre uma única família de plantas.

    No caso da família Cactaceae os problemas se acumulam em função do pouco conhecimento local sobre estas plantas. Quase todo o conhecimento disponível sobre os cactos do Rio Grande do Sul só é encontrado em sites de estudiosos de outros países. Praticamente não se dispõe de livros e de outras publicações, em português, que se ocupem sobre os cactos desse Estado.

    O objetivo principal deste trabalho é o de apresentar a rica e variada flora cactácea desta região, que se destaca quando confrontada com o restante da área do Brasil. Com efeito, registra-se para a área do Rio Grande do Sul (280.000 km²) quase a terça parte da ocorrência das espécies de cactos conhecidas em todo o país (8.500.000 km²). Para o Rio Grande do Sul são relatados dez a doze gêneros e em torno de 70 espécies, enquanto que para todo o Brasil há registros de 37 gêneros e pouco mais de 240 espécies. Provavelmente essa proporção irá mudar no futuro, com a descoberta de novas espécies de cactos nas áreas poucos estudadas do imenso território brasileiro: ao passo que o número de espécies para o Estado tem menos chances de crescer por estar relativamente melhor estudado, podendo, até mesmo, vir a diminuir em função de revisões taxonômicas futuras. 

    Não se pretende aqui definir os gêneros e espécies válidos para a região considerada, nem corrigir ou acrescentar novos táxons. Objetiva-se, exclusivamente, apresentar o que se conhece até o momento, indicando dúvidas sobre prováveis duplicidades de nomes empregados para uma mesma espécie. A tarefa de aprimorar ou redefinir a nomenclatura das cactáceas incidentes no Estado do Rio Grande do Sul deverá ficar a cargo dos taxonomistas com maiores conhecimentos para tal.




Considerações gerais


   Para explicar a relativa abundância de espécies de cactos no território do Rio Grande do Sul deve-se levar em consideração as condições climáticas e fisiográficas imperantes nesta região mais meridional do Brasil.

     O clima da região é subtropical úmido (1.500 mm anuais), com precipitações pluviométricas regularmente distribuídas durante o ano e médias térmicas inferiores a 20º C. As quatro estações se apresentam bem definidas, registrando temperaturas abaixo de 0º C no inverno e alcançando 40º C no verão.

    Não obstante as severas mudanças climáticas, as suas diferentes regiões fisiográficas oferecem variados locais propícios ao desenvolvimento das cactáceas. Como a maioria dos cactos são essencialmente heliófilos, não suportando a competição com outras plantas de grande porte, eles encontram na região amplos descampados com vegetação herbácea (savanas), campos com mata rala e extensos afloramentos rochosos, favorecendo o desenvolvimento de espécies terrestres e rupícolas. Por outro lado, as espécies epífitas e terrestres encontram ambiente adequado a seu desenvolvimento nas matas ciliares e de encosta, que se distribuem regularmente em todas as regiões fisiográficas do Estado.



Regiões fisiográficas



    A maioria dos naturalistas costuma dividir o território sul rio-grandense em três regiões naturais principais: o Planalto Serrano, o Pampa Gaúcho e o Litoral. O bioma Pampa Gaúcho, também chamado de Região da Campanha, em sentido amplo, engloba desde as planícies da Depressão Central até os terrenos acidentados das Serras do Sudeste.

     Em função do relevo, cobertura vegetal e substrato rochoso, que melhor condicionam o desenvolvimento da flora cactácea, a subdivisão em quatro principais regiões fisiográficas parece ser mais adequada (vide figura).



Planalto Basáltico

   A primeira e maior província fisiográfica, o Planalto Basáltico, ocupa mais da metade do território gaúcho, distribuindo-se por toda a porção norte do Estado. Esse planalto, que constitui o prolongamento para sul do também chamado Planalto Arenítico-Basáltico de Santa Catarina e Paraná, inclina-se suavemente para sudoeste, adentrando no território da Argentina e do Uruguai. É constituído por sucessivas camadas tabulares de lavas ácidas e básicas, principalmente de composição basáltica, que imprimem ao relevo extensos chapadões pouco inclinados e bastante entalhados pela drenagem.
    Atingem altitudes superiores a 1.000 m na porção nordeste do Estado e menos de 100 m quando alcança o rio Uruguai em sua porção sudoeste.
     Na sua porção nordeste apresenta-se bastante dissecado, formando vários cânions na divisa com Santa Catarina e escarpas abruptas em suas vertentes leste e sul, constituindo a denominada Serra Gaúcha.
    O clima nesta região mostra-se mais frio (subtropical de altitude), com esporádicas nevascas e frequentes geadas no inverno, sendo também um pouco mais úmido (mais de 1,500 mm anuais), em relação ao restante do Estado.
    Quanto à vegetação apresenta duas feições bem distintas, as savanas dos Campos de Cima da Serra e as matas ciliares e de encosta, que constituem a Floresta de Araucária, especialização da Mata Atlântica do leste brasileiro.
    Esta região fisiográfica modifica-se um pouco quanto ao relevo e cobertura vegetal em sua porção sudoeste, assemelhando-se à fisiografia do Pampa Gaúcho, ao qual transiciona quase sem solução de continuidade.
    A flora cactácea nesta região fisiográfica é relativamente abundante, fazendo-se representar nos extensos afloramentos de rocha basáltica que emergem em meio aos campos e nas escarpas dos platôs, sob forma rupícola, como nas matas, de hábitat epifítico.
    Algumas espécies de cactos são endêmicas desta região fisiográfica e outras ocorrem também em outros locais do Estado. Podem ser citadas, como representativas, as espécies Parodia haselbergii (subespécieshaselbergii e graessnerii), Parodia warasii, Parodia magnifica, Parodia schumanniana ssp claviceps, Parodia leninghausii e Parodia horstii, de hábitat rupícola, até agora só encontradas nas escarpas e topos de morro desta região.
    Também sob a forma rupícola são encontradas espécies vicejando sobre os afloramentos basálticos em meio aos campos, tais como, Parodia alacriportana, Parodia stockingeri, Parodia linkii, e Parodia ottonis, sendo que pelo menos as últimas duas citadas, costumam ocorrer também em outras regiões.
    As espécies de cactos epífitos que incidem nas matas desta região fisiográfica, são basicamente dos gêneros Rhipsalis, Hatiora e Lepismium.
    Afora estas espécies, encontram-se outras de cactos rupícolas sobre os derrames basálticos, junto à fronteira com o Uruguai, agora dentro do domínio do chamado Pampa Gaúcho, podendo ser citadas Parodia buiningii, P. herteri, P. mammulosa, Frailea pumila e Frailea schilinzkyana,.





Depressão Central ou Pampa Gaúcho sensu strictu


   Esta região fisiográfica situa-se espremida entre as escarpas arenítico-basálticas do planalto gaúcho e os contrafortes das denominadas serras do sudeste. Trata-se de uma região bastante plana, com coxilhas raramente ultrapassando 150 m de altitude. Desenvolve-se desde o vale do rio Gravataí a leste, ocupando os vales dos rios Jacui e seu afluente Vacacaí, na porção central do Estado, tendo continuidade ao longo do vale do rio Ibicui, espraiando-se em direção sudoeste, junto às fronteiras com o Uruguai e Argentina, onde se confunde com as pradarias planas do Planalto Basáltico.
    O que caracteriza esta região, além da topografia baixa, é a sua quase ausência de vegetação arbustiva, predominando os campos com gramíneas.
    A Depressão Central é resultante da erosão sobre rochas sedimentares brandas, componentes da coluna gondwânica da Bacia do Paraná. Os poucos afloramentos rochosos são constituídos de arenitos ou crostas lateríticas e silicosas que se desenvolveram nesta região durante o período Tercio-Quaternário.
    A ocorrência de cactáceas nesta região é mais restrita, podendo-se relacionar algumas espécies de Parodia (P. erinacea, P. langsdorfii, P. linkii e P. ottonis), além de espécies de Frailea. Opuntia e Cereus. Nas matas dessa região podem ser encontradas espécies epífitas dos gêneros Rhipsalis e Lepismium.

Serras do Sudeste

    Esta região fisiográfica situa-se na porção leste-sudeste do Estado e se estende desde os arredores de Porto Alegre-Viamão até a fronteira sul, adentrando pelo território uruguaio. Está delimitada a leste pela Planície Costeira e a oeste-sudoeste pelo Pampa Gaúcho.
   Seus terrenos são constituídos principalmente por rochas graníticas, desenvolvidos também, em menor escala, sobre rochas metamórficas, ígneas e areno-conglomeráticas pertencentes ao Escudo Sul-rio-grandense. Estas rochas por serem resistentes à erosão propiciaram o estabelecimento de uma topografia irregular, dominada por serras baixas e descontínuas, como as serras dos Tapes e do Herval.
    Estes terrenos são cobertos por campos tipo savana, “campos sujos” (campos com vegetação rarefeita e de pequeno porte) e por matas ciliares e de encosta. Em meio a esta vegetação variada, destacam-se extensos afloramentos rochosos, planos, de encosta ou no topo de morros, onde costumam se desenvolver colônias de cactos rupícolas e/ou terrestres.
    O clima nesta região não difere muito daquele das demais regiões do Estado, apenas um pouco mais seco (menor de 1.500 mm anuais) e com chuvas mais irregularmente distribuídas durante o ano, não raro ocorrendo períodos de seca.
    É nesta região em que ocorre a maior diversidade de cactos, sendo registradas as seguintes espécies rupícolas e ou terrestres, entre outras: Cereus hildmannianus, Echinopsis oxygona, Frailea pygmaea, F. gracíllima, F. mammífera, F. buenekeri, Gymnocalycium horstii, Opuntia monacantha, Parodia concinna, P. erinacea, P. crassigibba, P. langsdorfii, P. rudibuenekeri, P. scopa, P. sellowiii, P. linkii e P.ottonis. Nas matas desta região são comumente encontradas nos hábitats epífita ou terrestre, espécies de Pereskia, Rhipsalis bacífera, R. pilocarpa, e Lepismium cruciforme, entre outras.




Planície Costeira


   Esta província fisiográfica é bem característica do leste do Rio Grande do Sul. Inicia-se estreita ao norte, na altura de Torres, e se alarga para sul, atingindo mais de 80 km de largura em sua porção mediana. É caracterizada por solos arenosos, provenientes de sedimentos de praias e de dunas de idade quaternária.
    Trata-se de uma região de topografia plana, com altitude máxima de 40-50 m, onde ocorrem numerosas lagunas e lagoas separadas por cordões arenosos. Em meio à vegetação herbácea e halófita sobressaem algumas restingas de mata baixa, onde se destacam frondosas figueiras.
    Nesta província fisiográfica são encontradas algumas espécies de cactos de hábitat terrícola, tais como Cereus hildmannianus, Opuntia monacantha, Parodia ottonis, Echinopsis eyriesii, Gymnocalycium denudatum e Frailea sp. Como epífitas, são encontradas frequentemente Rhipsalis bacífera eLepismium cruciforme.

    Comentários sobre as espécies de cactos citadas para o Rio Grande do Sul

   A nomenclatura das espécies de cactos relacionadas aqui, como ocorrentes no Rio Grande do Sul, está baseada nos trabalhos realizados por Anderson (2001) e Hunt et al (2006). Estes trabalhos são decorrentes das determinações do ICSG (Internactional Cactaceae Systematics Group), visando à revisão taxonômica das cactáceas em todo o mundo.
    A maior parte dos cactos incidentes no Rio Grande do Sul pertence ao antigo gênero Notocactus, que passou a se denominar Parodia, em função da regra de prioridade de nome mais antigo. As mudanças de nomenclatura e a revisão das espécies e subespécies deste gênero trouxeram grandes modificações nos nomes até então utilizados pelos aficionados destas plantas.
    A inclusão de espécies e de subespécies de cactos no quadro geral, dado a seguir, está baseada principalmente nos sites especializados em cactáceas, em trabalhos acadêmicos da UNISINOS, em revistas, em viagens ao campo do autor e em informações de terceiros.
    A grande maioria dos táxons sobre cactos referidos como de incidência no território do Rio Grande do Sul pode ser encontrada nos sites: desert-tropicals.com/Plants, cactiguide.com, cactusinhabitat.org, internoto.de, entre outros.
    Cabe aqui uma ressalva: provavelmente, nem todas as espécies e subespécies relatadas nos sites indicados e relacionadas na tabela anexa, são passiveis de serem encontradas no Estado, pois há muita desinformação sobre as ocorrências indicadas. Os trabalhos de pesquisa de campo são ainda insuficientes para determinar quais táxons realmente incidem no território do Rio Grande do Sul.
     Por outro lado, é provável que algumas espécies e até mesmo gêneros não citados possam vir a ser encontrados, em face de serem relatados como incidentes nos territórios fronteiriços do Uruguai e da Argentina, de características fisiográficas similares as do Estado. Supõe-se que possam vir a serem encontradas espécies dos gêneros Opuntia, Cereus, Gymnocalycium. Parodia e de outros gêneros ainda não relatados aqui. Da mesma forma, algumas espécies, notadamente epífitas, que ocorrem nas matas dos estados do sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina), são prováveis de vir a serem encontradas futuramente, também no Rio Grande do Sul, principalmente dos gêneros Rhipsalis, Epiphyllum, Lepismium e Schlunbergera. 

CACTÁCEAS CITADAS COMO INCIDENTES NO ESTADO (RS):

Gênero Brasiliopuntia

B. brasiliensis Berger – I

Gênero Cereus

C. aethiops Haw. – III
C. hildmannianus K. Schum. – I, II, III, IV
C. jamacuru DC – I

Gênero Echinopsis

E. brasiliensis – III
E. eyriesii (Turp.) Zucc. – I, III, IV
E. oxygona (Link) Zucc. – II, IV

Gênero Frailea

F. buenekeri W. R. Abrahan 1990
    ssp buenekeri – I
    ssp densispina – I
F. buiningiana Prestlè 1997 – I
F. castanea Backeberg 1935
    ssp castanea – I, III
    ssp harmoniana – I
F. curvispina Buining & Brederoo 1972 – I, III
F .friedrichii Buining & G. Moser 1971 – I, III
F. gracillima (Monville ex Lemaire) Britton & Rose 1922
    ssp gracillima – I, II, IV
    ssp horstii – I, II, III
F. mammifera Buining & Brederoo 1972 – I, III
F. perumbilicata F. Ritter 1970 – I, III
F. phaeodisca - II
F. pumila (Lemaire) Britton & Rose 1922
    ssp pumila – II, IV
    ssp deminuta - I
F. pygmaea (Spegazzini) Britton & Rose 1922
    ssp pygmaea – I, II
    ssp albicolumnaris – I
    ssp fulviseta – I
F. schilinzkyana (F. Haage) Britton & Rose 1922 – II


Gênero Gymnocalycium

G. buenekeri Swales 1978 – I, III
G. denudatum - I, II, III, IV
G. horstii Buining 1970 – I, III

Gênero Harrisia

H. toruosa – III

Gênero Hatiora

H. rósea – I

Gênero Lepismium

L. cruciforme – IV
L. houlletianum – IV
L. lumbricoides – I, IV

Gênero Opuntia

O. elata – II
O. monacantha – III, IV
O. viridirubra – I, II, III

Gênero Parodia Spegazzini 1923

P. alacriportana Backeberg & Voll 1949
    ssp alacriportana – I, III, IV
    ssp brevihamata (Haage ex Backeberg) Hofacker & Braun 1998 - I
    ssp buenekeri (Buining) Hofacker & Braun 1998 – I
P. allosiphon (Marchesi) N. P. Taylor 1987 – III
P. arnostiana (Lisal & Kolaric) Hofacker 1998 – I, III
P. buiningii (Buxbaun) N. P. Taylor 1987 – I, II, III, IV
P. concinna (Monville) N. P. Taylor 1987
    ssp concinna – I, III, IV
    ssp blaauwiana - I
P. crassigibba (F. Ritter) N. P. Taylor 1987 – I, II III, IV
P. curvispina (F. Ritter) D. R. Hunt 1997 – I, III
P. erinacea (Haworth) N. P. Taylor 1987 – I, II, IV
P. erubescens (Osten) D. R. Hunt 1997 – IV
P. fusca (F. Ritter) Hofacker & J. P. Braun 1998 – I, III
P. gaúcha Machado & Larocca 2008 – I
P. haselbergii (F. Haage ex Rumpler) F. H. Brandt 1982
    ssp haselbergii – I, II, III
    ssp graessnerii (K. Schum.) Hofacker & J. P. Braun 1998 – I, II, III
P. herteri (Werdermann) N. P. Taylor 1987 – II, III
P. horstii (F. Ritter) N. P, Taylor 1987 – I, II, III
P. langsdorfii (Lehmann) D. R. Hunt 1997 – I, II, III, IV
P. leninghausii (K. Schumann) F. H. Brandt 1982 – I, II, III
P. linkii (Lehmann) R. Kiesling 1995 – I, II, III, IV
P. magnifica (F. Ritter) F. H. Brandt 1982 – I, II, III
P. mammulosa (Lemaire) N. P. Taylor 1987
    ssp mammulosa – I, II, III, IV
    ssp eugeniae (Vliet) Hofacker 1998
    ssp submammulosa (Lemaire) Hofacker 1998
    ssp erythracantha (H. Schlosser & Brederoo) Hofacker 1998
P. meonacantha (Prestlè) Hofacker 1998 – I, III
P. mueller-melchersii (Frie ex Backeberg) N. P. Taylor 1987
    ssp mueller-melchersii – I, II
    ssp gutierrezii (W. R. Abrahan) Hofacker 1998 – I
P. muricata (Otto ex Pfeiffer) Hofacker 1998 – I, III
P. neoarechavaletae (Elser ex Havlicek) D. R. Hunt 1997 – III
P. neobuenekeri (?) – II
P. neohorstii (S. Theunissen) N. P. Taylor 1987 – I, II, III
P. nothominuscula Hofacker 1998 – I, III
P. ottonis (Lemaire) N. P. Taylor 1987
    ssp ottonis – I, II, III, IV
    ssp horstii – I
P. oxycostata (Buining & Brederoo) Hofacker 1998
    ssp oxycostata – I, III
    ssp gracilis - I
P. permutata (F. Ritter) Hofacker 1998 – I, III
P. rechensis (Buining) F. H. Brandt 1982 – I, III
P. rudibuenekeri (W. R. Abrahan) Hofacker & J. P. Braun 1998
    ssp rudibuenekeri – I, III
    ssp glomerata – I
P. schumanniana (Nicolai) F. H. Brandt 1982
    ssp schumanniana – I, III
    ssp claviceps – I, II
P. scopa (Sprengel) N. P. Taylor 1987
    ssp scopa – I, II, III
    ssp neobuenekeri – I
    ssp succinea – I
P. sellowi (Link & Otto) D. R. Hunt 1997 – I, III
P. stockingeri (Prestlè) Hofacker & J. P. Braun 1998 – I, III
P. tabularis (Cels ex Rumpler) D. R. Hunt 1997
    ssp tabularis – I, III
    ssp bomeljei – I
P. tenuicylindrica (F. Ritter) D. R. Hunt 1997 – I, III
P. turbinata (Arechavaleta) Hofacker 1998 – I, II
P. warasii (F. Ritter) F. H. Brandt 1982 – I, II, III, IV
P. werdermanniana (Herter) N. P. Taylor 1987 – III
P. werneri Hofacker 1998
    ssp werneri – I, III
    ssp pleiocephala – I, III

Gênero Pereskia

P. aculeata Mill. – IV
P. grandifolia (Leutenb.) N. P. Taylor & D. C. Zappi – IV
P. nemorosa Rojas – III (?)
P. sacharosa Griseb – III

Gênero Rhipsalis

R. agudoense – I
R. baccifera (J. S. Mueller) Stearn – IV
R. campos-portona Loefgren - III
R. cereuscula Haw. – III
R. floccosa (G. Lindb.) Salm-Dick ex Pfeif – III
R. grandiflora Haw. (?) – IV
R. pachyptera Pfeif. – I
R. paradoxa (Salm-Dick ex Pfeif.) Salm-Dick – III (?)
R. pilocarpa Loefg. – IV

Referências:

 I – Anderson (2001) e site cactiguide.com
II – site cactusinhabitat.org
III – site desert-tropicals.com/Plants
IV – revista Internoto, pesquisa de campo do autor, trabalhos
acadêmicos da UNISINOS e informações de terceiros.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Origem e evolução das cactáceas





   Estudos sobre filogenia molecular tem considerado que a família dasCactaceae está ligada a ordem Caryophyllales, que engloba 33 famílias, em torno de 690 gêneros e mais de 11.000 espécies de plantas floríferas dicotiledôneas. No entanto, algumas questões referentes às cactáceas ainda não estão plenamente resolvidas.

   Representantes da família Cactaceae são amplamente encontrados desde o Canadá, ao norte até a região da Patagônia, ao sul, incidindo em todas as porções das Américas, inclusive em ilhas do Caribe, do Atlântico e do Pacífico.
   A incidência de espécies de cactos se manifesta desde o paralelo 56º norte até o paralelo 50º sul e desde a ilha de Fernando de Noronha (meridiano 32º W), a leste, até a costa oeste da Província de Alberta, do Canadá (meridiano 130º W).
   No entanto, espécies de cactos nativos não são encontradas em outras partes do mundo. Por quê? Esta constitui a primeira grande questão a ser discutida.
   As outras questões são relacionadas aos ancestrais das cactáceas, à época e local do surgimento dos primeiros representantes dessa família e ao modo de sua dispersão pelas mais diferentes regiões das Américas.
   É provável que todas as questões possam ser melhor respondidas quando for resolvida satisfatoriamente a questão primordial: qual seja, a razão porque só existam cactos nativos no Novo Continente.
   Admite-se, amplamente, que a tribo Pereskieae seja a precursora de todas as cactáceas e que a partir dessa tribo primitiva tenham evoluído todos os demais cactos. As espécies representantes dessa tribo são todas terrestres, a maioria arborícola, e apresentam folhas, além de espinhos, durante todo o período vegetativo. Estas plantas só são encontradas nativas, atualmente, nas regiões tropicais e subtropicais das Américas, desde o sul do México até o sul do Brasil. Em função disso e de outras evidências, alguns pesquisadores admitem que o berço das cactáceas tenha sido as florestas tropicais úmidas da porção norte da América do Sul.
   Admite-se, também, como hipótese, que a região tropical das Américas tenha sido, em passado remoto, toda coberta por florestas úmidas. Mudanças climáticas, em partes dessa grande região, teria ocasionado o desenvolvimento de sub-regiões áridas e semiáridas, como por exemplo, o Nordeste do Brasil, atualmente, e o grande Chaco na porção central da América do Sul, em passado recente. Remanescentes da flora amazônica têm sido encontrados nestas sub-regiões, corroborando esta hipótese. Portanto, é lícito supor que a partir dessas mudanças climáticas, as cactáceas primitivas tenham evoluído, procurando se adaptar às novas condições.
   A tribo Opuntieae ocupa a posição intermediária dentro da pressuposta evolução filogenética da Família Cactacea. Os representantes dessa tribo (gêneros Opuntia, Maihuenia, Maihueniopsis, Austrocylindropuntia, Brasiliopuntia, Consolea, Tephrocactus, Cumulopuntia, Cylindropuntia e outros) teriam evoluído a partir da tribo Pereskieae, adaptando-se às condições mais severas do clima mais árido. As espécies, assim evoluídas, são excelentes marcadoras da distribuição dos cactos e se constituem na principal chave para o entendimento da evolução e dispersão das cactáceas no continente americano.
   Constata-se que representantes dessa tribo aparecem em todos os recantos das Américas. O gênero Opuntia, que caracteriza a tribo, constitui-se num dos poucos gêneros das cactáceas que tem distribuição pandêmica. De fato, a espécie Opuntia fragilis marca o limite setentrional e a espécie Maihueniopsis darwinii o limite mais a sul da distribuição das cactáceas no novo mundo. No arquipélago dos Galápagos, que dista cerca de 1.400 km a oeste do litoral do Equador, encontram-se várias espécies do gênero Opuntia (O. echios, O. galapageia, O. helleri, O. insularis, O. megasperma e O. saxicola), enquanto que em Fernando de Noronha, que se situa a 380 km a leste do litoral do Rio Grande do Norte, ocorre o mesmo tipo de vegetação da caatinga do sertão nordestino, inclusive com vários representantes das cactáceas.
   A incidência de cactáceas nas ilhas de Fernando de Noronha e do arquipélago dos Galápagos, isoladas no mar e muito distantes do continente, constitui outro problema a ser discutido quanto ao modo de dispersão das cactáceas. Não se sabe ao certo como essas cactáceas apareceram nessas ilhas. No caso de Galápagos, as espécies deOpuntia retro citadas, são endêmicas desse arquipélago, o que permite postular a hipótese de que são oriundas da evolução de alguma espécie provinda do continente; restando estabelecer de que forma a planta original ou suas sementes chegaram até essas ilhas, a mais de 1.000 km de distância.
   Por outro lado, sendo estas ilhas de constituição vulcânica suas idades são relativamente precisas, obtidas por datação geocronológica. As ilhas mais antigas do arquipélago dos Galápagos são datadas em poucos milhões de anos, bem como as de Fernando de Noronha, sendo, portanto, de formação bem recente (Terciário Superior a subatual), em relação à história geológica. Em face destes dados, pode-se concluir que as cactáceas incidentes nessas ilhas são de idade, relativamente, bem jovens.
   Alguns pesquisadores advogam a ideia de que o soerguimento dos Andes e das Montanhas Rochosas em sua continuidade para norte, tenham propiciado as mudanças climáticas e o estabelecimento de regiões desérticas e semiáridas na porção oeste do continente. Assim, as espécies de cactáceas evoluídas das tribos mais primitivas, teriam se adaptado ao clima mais seco desta região. A época em que isto tenha acontecido seria do período Terciário, de acordo com a evolução orogenética dos Andes. Por outro lado, estudos geológicos sobre a evolução do rio Amazonas corroboram esta idade. Esses estudos têm demonstrado que o rio Amazonas, no período Terciário, desembocava no Pacífico, tendo invertido seu curso devido ao soerguimento da cadeia montanhosa dos Andes. Essa assertiva está baseada no estudo dos sedimentos de um grande lago que teria sido formado no curso médio desse rio nesse período.
   O pretérito Continente Gondwana, que no início do período Cretáceo foi fragmentado, separando os continentes atuais (América, África, Eurásia e Antártida), marca a idade máxima em que a vida vegetal e animal poderia se desenvolver sem barreiras. Isto significa que os descendentes de diferentes famílias de plantas e de animais anteriores a esse período podem ser encontrados atualmente em todos os continentes, enquanto que as famílias mais jovens devem ser restritas ao continente atual em que se desenvolveram.
   Levando-se em consideração as evidências geográficas e geológicas é lícito formular a hipótese de que a flora cactácea, pelo menos os representantes das tribos mais evoluídas, é de idade relativamente jovem, em relação a outras famílias de plantas. Assim, pode-se admitir que as cactáceas surgiram somente no continente americano, em época relativamente recente, provavelmente no Terciário Superior. Se esta hipótese for confirmada, fica resolvida a questão do por que as cactáceas são exclusivas do continente americano.
   A partir desta hipótese pode-se supor que a dispersão das cactáceas esteja ainda apenas no começo, embora já tenha dado um grande salto, se expandindo por todo o continente e alcançando algumas ilhas distantes, quiçá alguns locais da África tropical e ilhas do Índico.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pragas e doenças


    Os cactos são relativamente bastante resistentes às doenças e pouco atacados por pragas.
    As pragas que mais frequentemente atacam os cactos são as cochonilhas, os ácaros e os nematoides.
    Entre as cochonilhas, as mais danosas são as espécies popularmente chamadas de cochonilhas brancas, que se parecem como uma penugem de algodão.
    Estas cochonilhas além de se alimentarem da seiva das plantas as suas excreções favorecem o desenvolvimento de fungos e o aparecimento de outros insetos. Em alguns cactos. quando uma determinada parte da planta é atacada, costuma se desenvolver um tipo de lesão, provocando um crescimento anômalo dos tecidos no local, como se fora uma verruga ou falso broto.
     Felizmente estas cochonilhas são facilmente combatidas com inseticidas naturais, tipo calda de fumo ou água com sabão.
    Outras espécies de cochonilhas são aquelas de carapaça, lembrando uma pequena escama, que fica aderida à superfície do corpo da planta. Este tipo de cochonilha se protege com sua carapaça, que impede a ação do inseticida, sendo necessário o emprego de óleo mineral. O óleo mineral forma uma película encima da carapaça que sufoca a cochonilha, forçando a se desprender.
    Além das cochonilhas é comum a infestação por ácaros vermelhos, principalmente em ambientes quentes e secos, podendo-se evitá-los com cuidados profiláticos.
    Quando a infestação por insetos for grande pode-se adicionar um inseticida químico (organofosforado), tópico ou sistêmico, misturado com água e óleo mineral, que é capaz de erradicar mais rapidamente as pragas, não fazendo mal a planta; no entanto, deve-se ter cuidado na aplicação, pois estes inseticidas são venenosos, agindo inclusive de modo cumulativo, depositando-se ao longo do tempo nos tecidos cartilaginosos, podendo vir a causar doenças no futuro.
    Os nematoides são vermes milimétricos que atacam as raízes das plantas, favorecidos pelo excesso de umidade. Quando as raízes são atacadas a planta perde vitalidade, ficando mais suscetível ao ataque de fungos e bactérias.
    As doenças dos cactos são causadas por fungos, bactérias e vírus. Os fungos e bactérias ocasionam as chamadas podridões, que quando não combatidas a tempo, levam a planta à morte. Muitas vezes consegue-se estancar um início de infecção, cortando-se a parte atacada da planta e deixando-a secar ou aplicando um pó secante (pó de canela, por exemplo) e/ou fungicida tópico.
    A ação dos vírus sobre as plantas ainda não está bem compreendida. Supõe-se que as manchas amarelas em algumas espécies de Cereus (p. ex. C. hildmannianus variedade “Brasil”) e as monstruosidades apresentadas por espécies deste e de outros gêneros, possam ser provocadas por ação de vírus.
    No cultivo das plantas é muito importante adotar os cuidados profiláticos adequados, evitando-se a propagação de doenças ou infestação de pragas. Deve-se esterilizar as ferramentas contaminadas e eliminar ou isolar as plantas doentes ou atacadas por pragas. As raízes mortas sempre devem ser retiradas, antes do replante.
       Observa-se que as plantas fracas ou mal enraizadas são mais suscetíveis de serem atacadas. Portanto, para manter as plantas sadias é necessário, antes de tudo, propiciar a elas as condições de cultivo adequadas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Curiosidades sobre cactos


     A igreja de San Pedro de Atacama, no Chile, devido à dificuldade de se conseguir madeira em pleno deserto, tem seu forro no teto construído por placas alveolares, provenientes de troncos serrados, de um cacto existente na região (“cardon”). Estas placas são leves, bastante resistentes e duráveis, nas condições de uso em que foram empregadas.



     O cacto colunar denominado de “saguaro” (Carnegiea gigantea), encontrado nas regiões áridas do sudoeste dos Estados Unidos e norte do México é a maior espécie de cactácea existente. Os exemplares adultos, com ramificações na forma de candelabro, podem alcançar mais de 15 metros de altura e seus espessos troncos muitas vezes servem de abrigo a animais silvestres. Esta espécie tem crescimento muito lento, demandando cerca de 30 a 35 anos para alcançar um metro e mais de 150 anos para atingir a altura máxima. Floresce após a idade de 40 anos, não sendo, portanto, uma planta adequada para cultivo em estufa. Calcula-se que um saguaro adulto pode acumular milhares de litros de água em seus talos, capacidade esta que era utilizada pelos nativos em suas necessidades hídricas de emergência.



     Até quase o final do século XIX, a cor carmim dos cosméticos femininos era obtida a partir de uma determinada cochonilha, que parasita, entre outras plantas, uma espécie de cacto mexicano. Trata-se da Opuntia cochenillifera, que passou a ser cultivada em quase todo o mundo, principalmente na Guatemala e ilhas Canárias, além do México, com o objetivo comercial de obtenção deste corante natural, usado também como aditivo alimentar e no tingimento de tecidos. Durante o período colonial, o corante cochonilha constituía o segundo produto de exportação do México, em valor, só superado pela prata.



     O menor cacto conhecido não tem mais do que 12 milímetros de diâmetro máximo. A Blossfeldia liliputana é encontrada em pequenas cavidades de rocha ou depressões do solo, na vertente leste dos Andes, entre a Argentina e a Bolívia, a 1.200 a 3.500 metros de altitude. Apresenta forma globular, algo achatada, de cor verde olivácea, que a camufla entre musgos de mesma cor, tornando-se quase invisível, o que a tem preservado em seu hábitat natural, a despeito da grande procura.



      As maiores flores de cactos são encontradas nas espécies dos gêneros Selenicereus e Hylocereus. Estes cactos epífitos são originários das matas tropicais, encontrados desde o sul do México até o norte da América do Sul. Suas flores costumam ser brancas e perfumadas, chamadas popularmente de “damas da noite”, que abrem ao anoitecer e permanecem abertas somente uma noite. As flores destes cactos atingem mais de 30 centímetros de diâmetro, sendo que as da espécie Selenicereus macdonaldiae constituem a maior flor entre todas as cactáceas, alcançando 35 centímetros. As espécies Hylocereus undatus (pitaya vermelha ou fruta dragão – frutos de até 12 cm) e Selenicereus megalanthus (pitaya amarela) são produtoras de frutos, que atingem elevados preços nos mercados nacional e internacional, sendo cultivadas principalmente em países do Mediterrâneo e do sudeste asiático. A pitaya vermelha, provinda da Grécia, costuma ser encontrada em algumas bancas de frutas em Porto Alegre, sendo oferecida ao preço de R$ 10,00 a 15,00 por unidade. Em geral, estas espécies se desenvolvem bem no sul do Brasil, sendo que a Hylocereus undatus é encontrada em muitos lugares do Rio Grande do Sul; não obstante, seus frutos vermelhos não costumam chamar a atenção das pessoas, por completa ignorância de seu valor alimentício e de seus preços elevados.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Coleta de cactos


    A coleta de cactos na natureza vem sendo praticada com objetivos diversos. A pior destas práticas se refere à coleta de espécies de cactos visando o comércio ilegal. Felizmente, essa atividade não costuma ser muito praticada, devido ao pouco conhecimento da população brasileira em geral sobre o cultivo de cactos, havendo, portanto, pouca procura por estas plantas.
      A maior parte da coleta de cactos no Brasil é realizada por alguns poucos colecionadores nacionais e por aficionados e estudiosos de outros países. Atualmente os estrangeiros, principalmente europeus, constituem os principais coletores e pesquisadores destas plantas no Brasil. Alguns deles chegaram a dizer, como justificativa para esta prática, que assim o faziam com o objetivo de preservar algumas espécies ou variedades, através de cultivo em estufa em seus paises de origem, antes que as mesmas desaparecessem do habitat natural. Essa justificativa é no mínimo contraditória, para não dizer, também, que é ofensiva aos pesquisadores nacionais e órgãos de preservação ecológica.
      Na realidade, é muito pequena a participação de estudiosos e pesquisadores das universidades nacionais no estudo da flora cactácea. Quase todo o conhecimento que se tem das plantas brasileiras é fruto do estudo de pesquisadores estrangeiros, principalmente no que se refere à identificação e, inclusive, dos locais de incidência. Por outro lado, não existe nenhum livro editado no Brasil, de autor nacional, sendo raras também as traduções em português. Quase sempre, o conhecimento sobre as cactáceas brasileiras deve ser buscado em livros, revistas e sites de estudiosos de outros países.
      Portanto, a ação dos coletores nacionais e estrangeiros, com o objetivo de estudo e divulgação do conhecimento das cactáceas brasileiras, quando realizada com critério, constitui mais uma prática salutar e necessária do que nociva. Até mesmo a coleta visando à obtenção de matrizes ou sementes é justificável, quando se pretende a multiplicação e preservação dessas plantas. Por outro lado, não se pode pensar em preservar aquilo que não se conhece. Seria aconselhável que as entidades nacionais, responsáveis pela preservação das espécies, registrassem os colecionadores, estudiosos e produtores de cactos, tanto brasileiros como estrangeiros, concedendo-lhes ou não licenças especiais de acesso aos locais de incidência destas plantas, segundo seus critérios.
      Fora destes objetivos, a coleta de cactos na natureza não se justifica, devendo ser coibida com rigorosa fiscalização.
      A coleta de cactáceas em seus habitats naturais atualmente é, no mínimo, contraproducente, pelas seguintes razões:
      1ª - Constitui crime ambiental, sujeito às penalidades das leis brasileiras;
      2ª - É anti-econômica, cansativa e perigosa, podendo-se adquirir plantas e sementes de qualquer lugar do mundo por preços módicos;
      3ª – As plantas adultas coletadas na natureza são difíceis de cultivar, vindo muitas a morrer;
      4ª – Os cactos são facilmente reproduzidos por sementes ou por estaquia;
      5ª – As plantas adquiridas de produtores qualificados são mais saudáveis, de melhor qualidade e visual, além de serem mais fácil de cultivar, por estarem acostumadas ao ambiente de estufa.